Publicado em:3 de dezembro de 2016

Scans com entrevista de Olivier Assayas falando sobre Kristen e Personal Shopper na revista francesa Jalouse! [Atualizado]


O último filme do diretor, Personal Shopper, retrata uma garota dos dias de hoje, entre a prodigiosa Alta Costura e o uniforme diário, jeans e camiseta. Os dois estilos envolvem, escondem e mostram as duas faces de uma pessoa, amuado, esplêndido, nervoso e identificado.

Personal Shopper não é um filme sobre a moda, mas usa esse tema, por quê?

Desde o começo eu queria que a personagem, Maureen, tivesse um trabalho sem recompensa, algo realmente superficial. Isso causa um aperto nela. Ela tem esse trabalho para ganhar a vida, e também tem aspirações espirituais que a salvam do materialismo do mundo. Ela tem fé em ideias, arte, coisas reconfortantes.

A moda é artificial?

Não. O mundo do luxo também é habitado pela arte. Maureen é atraída por ele. Ela procura por pistas, modos de se reconstruir. Ela encontra a sua feminilidade. Este filme é uma busca pela feminilidade. Maureen faz um trabalho que não existia até uns anos atrás. É no ar do tempo como a moda, algo que tem tanto a ver com a ilusão da criação. Minha heroína trabalha para alguém que ela nunca vê o que é o caso para muitas pessoas. Ela tem uma vida profissional muito moderna. Ao mesmo tempo, seu tem um aspecto vagamente criativo: Maureen se veste de acordo com sua fantasia, seu humor, sua inspiração e alguém para por isso.

A moda tem um sentido no filme, as roupas são estruturais, gráficas, materiais… Por que a heroína é atraída por esse tipo de peça?

Eu queria um tipo de “armadura.” Estava literalmente escrito no roteiro, nesses termos: Um vestido armadura. As vezes tenho essa impressão que a moda é usada para isso. Protege, esconde ou revela, mas não importa o que é benevolente, protegendo.

Por outro lado, quando a moda não intervém, a heroína adora uma aparência que a faz parecer andrógina.

O que me interessava, é claro, uma espécie de androginia. Não é de se admirar que a heroína não tenha uma irmã gêmea, mas um irmão gêmeo. Ela o perdeu. Ela está de luto, mas ela perdeu uma parte dela, a parte masculina. Então uma androginia se desenvolve nela. De tempos em tempos, ela usa como uma proteção e um interrogatório sobre a sua identidade.

E quando ela pergunta si mesma [sobre sua identidade], Maureen tira suas roupas e procura quem ela é através das roupas. É a sequência mais bonita do filme.

Aqui eu quero dizer: A sequência é mais Kristen do que eu. Durante a gravação daquela sequência, eu não dei instruções, literalmente. O que quer que ela fala que tenha a ver com a falta de vergonha, ela só faz, pois se sente envolvida, e porque ela se domina completamente.

Incluindo ao longo do tempo?

Principalmente ao longo do tempo. Quando eu gravei essa cena, eu nunca imaginei que duraria três ou quatro minutos! Kristen prova as roupas, mas ela não teve que ficar nua durante todo esse tempo. Ela disse para mim: “Vamos ver. Eu vou me vestir. Vamos fazer isso durar.” Porque o que fascina Kristen, é a dramaturgia do interior do plano, que é manter o interesse, a curiosidade do publico apenas movendo seu corpo como ela faz, ou fazer as ações mais comuns. E quanto mais difícil é colocar isso na tela, mais ela se interessa. Esta cena tornou-se uma verdade cerimônia. Há uma magnetização que ocorre pela maneira que ela leva seu tempo. Ela coloca um tipo de escudo. Então, ela o tira, e coloca de volta. Eça então encontra um sutiã. Coloca-o. O mesmo com os sapatos. Ela queria que fosse habitada. De repente, esta cena se torna um momento de metamorfose. Essa personagem andrógina se torna alguém que não é ninguém menos que Kristen Stewart. Uma menina que, quando ela se ilumina, tornando-se uma estrela de cinema com um pouco de sendo animal. Instintivamente ela sabe como registrar isso. É também a coisa de ator-criança. Isso cresceu nela.

Você imaginou Kristen em um papel mais inocente?

Sim. Há algo fascinante e atraente. É que a Kristen nos filmes carrega algo não sexual! É engraçado, pois isso a faz ainda mais sexy, não sei como dizer, mas é verdade que ela não inspira algo sexual em mim. Seu corpo está muito presente e ao mesmo tempo não existe voyeurismo. Cria zero voyeurismo em mim. O que me inspira, é a naturalidade do modo em que ela está fora da questão sexual. Ela induz com muito virtuosismo. Kristen realmente tem uma liberdade de pensamento. Ela não é refém de nada, e na sua idade, é algo raro.

 Podemos dizer que ela é uma menina e não uma mulher?

Sim, sim, sim podemos. Isso se refere a sua identidade sexual indecisa. Eu tenho problemas para responder esta pergunta, pois se refere ao fato de que sou mais atraído por meninas do que por mulheres. É uma realidade. Da mesma forma que eu estou vivendo como um menino do que como um homem. É verdade.

Uma dupla artística que como você tem a preocupação com o significado da peça de roupa?

Acho que temos afinidades. Nós dois somos realmente tímidos e ao mesmo tempo, temos essa conversa não verbal por ondas interpostas, o que faz que estejamos em um acordo constante. Penso que nós temos o mesmo jeito de idealizar algo da prática do cinema  e se dedicar a ele com muita fé. Mal nós mal nos conhecemos direito.




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