A proposta de Good Time, dirigido pelos irmãos Joshua e Ben Safdie, é
algo que fica claro já em seus créditos iniciais, que, grafados em neon,
acompanhados por uma música eletrônica e trazendo informações sobre
copyright sob o título, apontam uma abordagem estética que agregará
elementos das décadas de 70 e 80 para contar a história de Connie Nikas
(Robert Pattinson), um rapaz que, determinado a conseguir dinheiro para
se mudar com o irmão Nick (Ben Safdie) para um lugar no qual este escape
da brutalidade da avó, decide levá-lo em um assalto a banco que logo
começa a dar errado.
Fotografado por Sean Price Williams com uma
paleta cujas cores parecem ter sido filtradas por luzes fluorescentes
que tiram sua vitalidade e diminuem consideravelmente o contraste, o
filme tem uma estética calculadamente crua que reflete com propriedade o
universo do protagonista, que, mesmo criminoso e capaz de violência,
projeta um ar de inocência e doçura que, somado às decisões impulsivas e
estúpidas que frequentemente toma, resulta num protagonista
surpreendentemente complexo para uma obra que tem mais pretensões de
funcionar como exercício de estilo do que como estudo de personagem.
Parte
do mérito por isso cabe a Robert Pattinson, que, além de trazer
suavidade a uma figura tão bruta, mantém as boas intenções de Connie
sempre palpáveis sob seu desespero e suas explosões – e é curioso
perceber como somos simultaneamente convencidos de que ele não faria mal
às pessoas que cruzam seu caminho, mas também de que talvez fosse
melhor não testar esta suposição. Igualmente instrumental para a
eficácia da narrativa é a performance do co- diretor Ben Safdie, que,
como Nick, convence o público da deficiência do jovem sem apelar para
caricaturas (sua composição é tão boa, devo dizer, que me vi compelido a
pesquisar se ele realmente tinha alguma limitação cognitiva). Aliás,
Jennifer Jason Leigh alcança um efeito similar com sua personagem, que,
com apenas poucos minutos de tela, deixa uma forte e triste impressão de
uma mulher frágil psicológica e emocionalmente. Fechando o elenco
principal, Barkhad Abdi, uma revelação em Capitão Phillips, aparece como
prova viva das dificuldades enfrentadas por minorias para conseguir
papéis relevantes no Cinema.
Sem jamais conceder um descanso para
o público, Good Time tem um claro parentesco com obras como Depois de
Horas, mantendo-nos juntos ao protagonista durante um relativamente
curto – mas intenso – espaço de tempo, já que atira todo tipo de
obstáculo no caminho de Connie, que também faz sua parte para piorá-los
ao tomar sempre as piores decisões possíveis. A partir de certo ponto,
aliás, a situação do rapaz passa a beirar o cômico, despertando risos
nervosos (intencionais) da plateia diante da constatação de que os
realizadores não permitirão um momento sequer de alívio – e se o longa
tem algum problema, este não é o tédio.
Com um desfecho
melancólico, mas também esperançoso (na medida em que aqueles indivíduos
podem ter alguma esperança), Good Time não é o tipo de trabalho que
normalmente esperaríamos ver na mostra competitiva de Cannes, mas isto
diz mais sobre nossas preconcepções acerca do que um festival como este
deveria oferecer do que sobre o filme em si.
Nenhum comentário:
Postar um comentário